O que os geriatras e especialistas em gerontologia esperam do próximo presidente do Brasil

No último dia de 17, o jornal Folha de S. Paulo publicou uma matéria assinada pelas jornalistas Cláudia Collucci e Natália Cancian sobre as propostas dos presidenciáveis para a área da saúde. O levantamento foi realizado com base nos planos de governo registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e trouxe uma conclusão preocupante: por mais que seja uma das principais prioridades dos brasileiros, a saúde não ocupa lugar central nos planos de governo dos candidatos à Presidência, sendo abordada apenas de maneira genérica e denotando compromissos limitados.

A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) demonstra preocupação com o futuro da saúde no Brasil com base nas propostas superficiais de todos os candidatos à presidência. Mais do que isso, a SBGG vem a público esclarecer a importância de discutir a saúde brasileira de maneira ampla e, sobretudo, à luz do processo de envelhecimento da população.

Em um panorama de transição demográfica a saúde é extremamente relevante por fatores como qualidade de vida, bem-estar social, econômico e trabalhista, entre outros. Segundo o Datafolha, 23% dos brasileiros consideram a saúde como prioritário para país e 55% consideram o atendimento péssimo ou ruim. Algo que não recebeu a devida atenção nos planos de governo dos 13 candidatos ao Planalto Central.

Mais do que isso, a SBGG alerta que o Brasil vai envelhecer muito mais rápido do que outras nações, um processo que já está em curso e não pode ser parado. Atualmente existem 28 milhões ¹ de brasileiros com 60 anos ou mais e a expectativa é que até 2060 este número suba para 73 milhões. Um aumento de 160% nas próximas quatro décadas.

Para se ter uma ideia, para a Organização Mundial da Saúde (OMS) um país é considerado envelhecido quando 14% da sua população possui mais de 65 anos. Na França, por exemplo, este processo levou 115 anos. Na Suécia, 85. No Brasil, levará pouco mais de duas décadas, sendo considerado um país velho em 2032, quando 32,5 milhões dos mais de 226 milhões de brasileiros terão 65 anos ou mais.

Voltando para o presente, mais de 14 milhões de idosos são usuários SUS exclusivos, ou seja, dependem apenas da rede pública. O Sistema Único de Saúde, que completa 30 anos em 2018, foi pensado e montado para curar doenças ao invés de evitá-las. Porém, com a transição demográfica, há também uma mudança epidemiológica e do perfil de doenças que acometem a população.

Hoje, o sistema de saúde encontra-se saturado, um dos motivos é a tripla carga de doenças que sobrecarregam os serviços de saúde. A cobertura de saneamento básico no brasil ainda é precária, cerca de 83% da população brasileira tem o fornecimento de água potável e 50% tem coleta de esgoto, e deste apenas 45% é tratado, sendo as doenças infecciosas importante causa de mortalidade. As causas externas são outro grande problema de saúde pública, em 2017, foram registrados mais de 63 mil homicídios no brasil. Na transição epidemiológica, decorrente da transição demográfica, ocorre um aumento da prevalência das doenças crônicas não transmissíveis, que são as principais causas de infarto agudo do miocárdio e acidente vascular encefálico.

O próximo presidente precisará urgentemente considerar a saúde como prioridade e elaborar estratégias que visem o atendimento primário e a qualificação dos profissionais na área de geriatria e gerontologia, especialmente na da atenção primária a saúde e no modelo assistencial voltado para o manejo das DCNT.