Nota de esclarecimento à ministra Damares Alves

Em entrevista concedida à revista Crusoé, publicada no dia 18 de junho, a chefe do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, citou a criação de “creches públicas para idosos”. A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) enaltece a iniciativa de espaços de sociabilidade e assistência à pessoa idosa. Porém, esclarece que o termo “creches públicas para idosos” é inadequado e não condiz com a visão atual do envelhecimento.

Utilizar o termo “creche”, para designar estabelecimentos e instituições que cuidam de idosos, reforça a infantilização da pessoa idosa, algo repudiado pela SBGG, pela comunidade científica e por pessoas que, mesmo após o envelhecimento, estão aptas para uma vida ativa e autônoma. O idoso é um adulto consciente, independente e que deve ter seus interesses respeitados. Infantilizar a pessoa idosa com o uso do termo “creche” é desrespeitar a sua autonomia e biografia.
A nomenclatura correta ao espaço ao qual a ministra se referiu é Centro Dia. Nestes locais, pessoas acima dos 60 anos têm acesso à saúde, educação, cultura e assistência social de qualidade, durante o dia, retornando para as suas residências à noite, mantendo assim os laços familiares e sociais.
Além dos Centros Dia, existem outras modalidades de acolhimento à pessoa idosa, como Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) e Centros de Convivência. O primeiro, remete a um trabalho mais humanizado dos antigos “asilos” – termo que também soa pejorativo e está fora do padrão de envelhecimento atual. O segundo, são unidades públicas com o objetivo de promover o bem-estar e convivência social por meio de atividades socioculturais e educativas diárias, contribuindo para o envelhecimento ativo.
No Brasil, há mais de 29 milhões de pessoas acima dos 60 anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sendo que, uma estimativa recente feita pela Organização das Nações Unidas (ONU), 29,4% da população brasileira terá mais de 60 anos em 2050. Neste cenário, é de extrema importância a criação de Centros Dias ou outras instituições de acolhimento para idosos e o fortalecimento dos direitos desta parcela significativa da população.
A SBGG reforça a necessidade de criação de políticas públicas que acolham os idosos, respeitando a cidadania do indivíduo e garantindo o acesso a serviços públicos essenciais e de qualidade, além de abolir termos que marginalizem ou perpetuem estereótipos negativos dos idosos.
A SBGG também se coloca à disposição para eventuais esclarecimentos à ministra em relação ao envelhecimento da população brasileira, com vistas a auxiliar no que for necessário para que o Brasil se torne referência em políticas públicas voltadas ao idoso.
 

Carlos André Uehara
Presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

Vânia Beatriz Herédia
Presidente do Departamento de Gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

Rio de Janeiro, 19 de junho de 2019