Janeiro Branco
Especialistas defendem acompanhamento profissional e familiar no
tratamento de idosos com depressão
1,2% das pessoas de 60 a 64 anos sofrem da doença no
Brasil, segundo a OMS
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram
que, em 2017, o Brasil tinha 11,5 milhões de pessoas com depressão, sendo que
os idosos estavam entre os mais atingidos pela doença. No mês lembrado pela conscientização sobre a Saúde Mental, especialistas da Sociedade
Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) alertam: receber os cuidados
profissionais e familiares adequados é fundamental no tratamento.
A psicóloga
especialista em Gerontologia, Eloisa Adler, explica que a longevidade é um
desafio do século XXI à medida que cada vez mais as pessoas atingem idades
muito avançadas. “Nesses últimos anos, as políticas, ações e os estudos na área
do envelhecimento avançaram muito, mas o cenário da velhice também mudou. Não
estamos preparados ainda para atender nossos velhos, quanto mais os velhos,
muito velhos, frágeis e dependentes”.
“Existem
muitas velhices, existem idosos saudáveis com autonomia e em plena atividade,
como a atriz Fernanda Montenegro, ícone da velhice com saúde física e mental.
Mas, também, existe o outro extremo que é a velhice com doenças e dependência
absoluta”, diz Adler.
Nessa etapa da
vida, com o aumento das perdas e a proximidade da terminalidade da vida, a
saúde mental dos idosos sofre fortes impactos, complementa a médica geriatra
Claudia Burlá. Com alguma frequência, “As limitações decorrentes do processo do
envelhecimento, como o declínio funcional do corpo físico, a perda do status
social, limitações financeiras e múltiplas perdas afetivas precipitam o
surgimento da depressão”.
Burlá acrescenta,
ainda, que a intervenção medicamentosa isoladamente nem sempre resolve este
transtorno mental. “É essencial fazer um tratamento integrado com profissionais
da psicologia atendendo as diversas demandas psicossociais”.
Tristeza é um
sentimento próprio da condição humana, acrescenta Adler: “A sociedade
contemporânea tende a biomedicalizar questões existenciais. Depressão é uma
doença e deve ser reconhecida e tratada com fármacos, psicoterapia e
participação social”.
Importância da família
No país, segundo
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem
cerca de 30 milhões de pessoas com 60 anos ou mais. Entre os idosos de 60 a 65
anos, 1,2% tinha depressão em 2017, de acordo com a OMS, representando a faixa
etária com mais pessoas depressivas no Brasil.
Ter um
acompanhamento familiar pode ajudar no tratamento da doença entre os mais
velhos, dizem as especialistas. Para a psicóloga, nem sempre é fácil
identificar o adoecimento de um familiar idoso: “Às vezes falam que é ‘coisa de
velho’. Mas, se for um quadro de depressão é preciso que os familiares reconheçam
a doença e possam tomar as medidas necessárias para tratá-la”.
Com o processo
do envelhecimento, é frequente que a pessoa idosa seja progressivamente
excluída e marginalizada. Esta perda gradativa do lugar de importância no
contexto social e familiar pode culminar num isolamento doloroso e, por vezes,
adoecedor. O convívio inter-geracional e a participação social são determinantes
para a inclusão da pessoa idosa na sociedade contemporânea, concluem Adler e
Burlá.