Analfabetismo e a pessoa idosa: a realidade do país

Segundo censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mais de 11 milhões de brasileiros são analfabetos. Desses, mais da metade são pessoas com 60 anos ou mais, correspondendo a uma média de seis milhões de idosos que não sabem ler e nem escrever. A situação é mais crítica quando são analisadas as pessoas pretas ou pardas que moram nas regiões norte e nordeste do país.

A taxa de analfabetismo entre pessoas idosas é três vezes maior se comparada à faixa etária jovem. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua: Educação 2019, a última realizada, a taxa de analfabetismo entre idosos da região Nordeste é de 37,20% e no Norte é de 25,50%, em comparação a 10% das regiões Sul e Sudeste. Esses números mostram a realidade de um país desigual, onde o Norte e Nordeste possuem maior dificuldade no acesso à educação em relação às outras regiões.

Ações do Plano Nacional de Educação (PNE)

O Plano Nacional de Educação (PNE) foi sancionado no Congresso em 2014 e prevê o cumprimento de diversas metas até 2024 – até o momento, nenhuma foi alcançada. Uma delas é a erradicação do analfabetismo até 2024.

O processo começou com a intenção de atingir 93,5% de toda a população com mais de 15 anos alfabetizada até 2015, mas o número só foi alcançado em 2020. O alfabetismo funcional cresceu em vez de regredir: passou de 27% da população, de 15 a 64 anos, em 2015, para 29% em 2018, quando o propósito era uma redução de 13,5% em 2024.

Incentivo para idosos

A Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa da Câmara dos Deputados aprovou em dezembro de 2021 um Projeto de Lei que reserva vagas para educação básica para pessoas idosas. O projeto tem o intuito de estimular a retomada dos estudos para a conclusão da educação básica.

Muitos têm vergonha de não saber ler e escrever, mas também, muitas vezes, sentem que já passaram da idade de aprender. Fato é que tal iniciativa ajuda essa parcela da população a entender que o conhecimento é constante e que eles podem se alfabetizar mesmo após os 60 anos de idade.

Comissão de Políticas Públicas da SBGG

O presidente da Comissão de Políticas Públicas da SBGG, Dr. Vicente Faleiros,reforça a importância da inclusão de idosos na educação, mas salienta que nem o ensino fundamental, nem o EJA estão completamente preparados para receberem este público: “O projeto de lei mostra a importância da necessidade de inclusão desse segmento na educação formal, mas nem o ensino fundamental, nem o EJA estão preparados para isso. A SBGG defende a inclusão das pessoas idosas na educação de forma participativa e não passiva, com diversidade”.

Apesar do Estatuto do Idoso (em seu art.20) garantir que o idoso tem direito, entre outras coisas, à educação, Dr. Faleiros reitera a necessidade de dar voz a essa população: “É necessário colocar a questão do analfabetismo de pessoas idosas em debate com elas mesmas, no local e territórios em que se encontrem. Há uma diversidade de situações que devem ser levadas em consideração para a implementação de qualquer política neste sentido. Um exemplo básico para começarmos a discussão é que a zona rural é diferente das zonas urbanas”, reforça.

Ainda segundo o presidente da Comissão de Políticas Públicas da SBGG, a exclusão não é algo recente, mas é resultado de ações e situações ocorridas há muito tempo: “A falta de acesso à escolaridade desse segmento vem de sua infância no campo, do trabalho rural, da dominação do latifúndio e exploração da mão infantil e da falta de acesso e disponibilidade de escolas rurais e para trabalhadores”, aponta Dr. Faleiros.

O analfabetismo traz como consequência uma exclusão social e comunicacional da pessoa idosa que pode resultar em um aumento no preconceito já vivenciado por esta população: “A falta de acesso ao letramento se alia com toda a exclusão da comunicação cotidiana na sociedade. Quando pensamos na complexidade da vida moderna, com todos os seus recursos comunicacionais, percebemos que o acesso à informação é uma dificuldade básica, além da dificuldade de interação e desenvolvimento da autonomia. O preconceito de que idosos sejam imprestáveis ou inúteis se acentua com a falta de escolaridade, embora tenham sabedoria para viver e conhecimentos variados”, finaliza o Dr. Vicente Faleiros, presidente da Comissão de Políticas Públicas da SBGG.

Acompanhe mais assuntos importantes para as pessoas idosas nas redes sociais da SBGG:

/LinkedIn /Facebook /Instagram