SBGG no VIII Congresso Europeu da IAGG

A SBGG esteve presente no VIII Congresso Europeu da IAGG, em Dublin – Irlanda, realizado em abril. Juntas, as geriatras Elizabete Viana de Freitas e Marianela Flores de Hekman, do Conselho Consultivo da SBGG, participaram do evento que teve como tema central “Desvendando os Dividendos Demográficos” (Unlocking the Demographic Dividend). Confira abaixo o balanço do evento compartilhado pelas especialistas.

Nos dias 23 a 26 de abril aconteceu o VIII Congresso Europeu da IAGG, em Dublin, Irlanda, cujo tema central foi – Desvendando os Dividendos Demográficos (Unlocking the Demographic Dividend), a Europa é um dos países que tem uma grande demanda de serviços de cuidados à saúde do idosos, ressaltando enfaticamente a necessidade de políticas governamentais prioritárias para o controle e prevenção de doenças crônico degenerativas.

Um dos destaques foi dado à reavaliação terapêutica considerando que a polifarmácia se constitui em importante fonte de agravo à saúde do idoso. Foi apresentado um novo instrumento de avaliação terapêutica, conhecido como Forta, que nada mais é que uma ferramenta baseada em uma sistemática revisão das indicações terapêuticas para determinada doença.

Também foi discutida a falta de verdadeiras evidências, tendo em vista que nos guidelines existentes raramente há referência para idosos como um especial grupo para tratamento, citando-se, por exemplo, que no ESH/ESC guidelines on arterial hypertension 2013 (Mancia et al), com um total de 76 páginas, apesar de ser doença de maior prevalência nos idosos, menos de uma página foi dedicada ao tratamento desse grupo. Por outro lado, foi relatada que há muita ansiedade entre os médicos sobre descontinuar determinada medicação e suas consequências, inclusive preocupação com as reações do paciente, sendo aberto outro fórum de discussões baseado na importância de se analisar criteriosamente a redução de dose e a descontinuação de medicamentos e a necessidade da comunicação entre os diversos especialistas, com o objetivo da priorização terapêutica, além de se incluir o paciente nesta discussão.

Para que se possa avaliar a preocupação da polifarmácia no idoso, em todos os dias do evento houve uma sala com discussão sobre a ação e efeitos colaterais das principais drogas usadas em geriatria, concluindo que deve existir uma política de parar uma medicação e considerar a droga a ser evitada ou inapropriada frente a avaliação da efetividade dos resultados e considerar o teor ético da prescrição medicamentosa. Outro highlight foi o grande foco ao NT-proBNP como marcador de risco para a incidência de doença cardíaca em idade de 85 a 90 anos, chamando atenção para o aumento de morbidade e perda de função renal, principalmente a partir dos 90 anos.

O aumento do NT-ProBNP foi relacionado a menor taxa de filtração renal, relacionou-se a expressivo aumento de fibrilação atrial (FA), infarto agudo do miocárdio (IAM), insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e acidente vascular encefálico (AVE). Ajustado para mortalidade mostrou-se como fator de risco para mortalidade cardiovascular CV), não cardiovascular e por todas as causas. Além disso, níveis elevados de NT-proBNP são preditores de declínio cognitivo e funcional, podendo auxiliar o clínico a identificar o muito idoso em risco de acelerado dano funcional, ICC, FA, IAM, AVE, mortalidade CV, não CV, por todas as causas e declínio da função renal. Estas conclusões foram embasadas no estudo BELFRAIL e em dados do estudo Prosper com medida do NT-pro BNP por 6 meses. (Am J Cardiol 2013, Vol III;8:1198-1208; Am Neurol 2014, 76:213-222).

Cuidados paliativos foram intensamente discutidos durante o evento com especial atenção para aspectos ainda pouco discutidos como sua aplicação na doença de Parkinson, podendo prover importante melhora na qualidade de vida e melhor qualidade dos cuidados dispensados a estes pacientes, sendo necessário o estabelecimento de triagem semelhante à realizada para estágio avançado de doença maligna. Tal modelo deveria ser estendido a todos os pacientes com doenças crônico degenerativas através das ferramentas disponíveis (Walker RW, Churm D, Dewhurst F et al. BMJ Supportive & Paliative Care 2014;4(1):64-67; Waldron M, Kernohan WG, Hassan F et al. Brit J Soc Work, 2013;43(1):81-98).

Em todo evento o aspecto educacional, com a necessidade e formação de recursos humanos, foi ponto considerado crucial devido à escassez de pessoal especializado no tratamento do idoso em todos os seus aspectos, tanto médicos como gerontológicos. Uma das últimas sessões do Congresso enfocou os resultados do estudo NORD-EEG, como ferramenta auxiliar no diagnóstico da demência por doença de Alzheimer. O estudo, publicado na Dement Geriatr Cogn Disord 2015;40:1-12, mostrou sensibilidade de 84% e especificidade de 81% na separação de indivíduos saudáveis daqueles com comprometimento cognitivo, e além disso mostrou sensibilidade de 85% e especificidade de 87% na separaçãoo de pacientes com doença de Alzeheimer daqueles com demência por corpúsculos de Lewi e com demência em portadores de doença de Parkinson.

Chamou a atenção a divisão de salas, em número de onze, apenas duas de maior porte, para em torno de 250 pessoas, e as demais variando entre 100 e 50 pessoas. Houve grande concorrência de trabalhos científicos, aproximadamente 1400 trabalhos, apresentados em ampla área de exposição. Não tivemos acesso ao número de congressistas. Entre os expositores observamos a presença dos laboratórios que comercializam os principais novos anticoagulantes, heparina de baixo peso, suplementos nutricionais, medicamentos destinados à doença de Parkinson e associações de assistência geriátrica.