No dia 27 de agosto, foi celebrado o Dia do Psicólogo. Para compreender mais o papel deste profissional, especialmente, junto ao idoso conversamos com Ligia Py (foto), psicóloga e especialista em Gerontologia pela SBGG; mestre e doutora, com estudos na área do envelhecimento e morte na velhice. Para ela, ser psicólogo é: “ser um profissional competente, sensível, ético e generoso”.
Embora Ligia possua um currículo valoroso, sua trajetória se sobressai, sem dúvida, por meio da maneira como ela conduz o seu olhar sobre a vida, em sua completude e finitude, bem como seus saberes quanto ao “ser idoso”, mas, sobretudo, o ser humano.
Querida e respeitada, Ligia levou o público que acompanhou a “Conversa no Sofá”, realizada entre ela e o geriatra Paulo Canineu (foto acima, com Ligia) ao final do XX Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia deste ano (CBGG 2016), a uma verdadeira imersão em valores, respeito ao levar a plateia a um mergulho em sua história de vida.
Confira a seguir esta breve conversa que a SBGG Entrevista teve com Ligia.
SBGG Entrevista: Qual o papel do psicólogo dentro deste perfil multidisciplinar no cuidar do idoso?
Ligia Py – O psicólogo pode estar junto com o idoso, por exemplo, para ajudá-lo a se entender com ele mesmo frente aos declínios ou às perdas do processo de envelhecer, se reinaugurando como sujeito de um novo corpo, velho e continuando a envelhecer…
Nas diferentes abordagens psicológicas há orientações de intervenções dessa natureza. E há uma função importantíssima do psicólogo junto aos demais profissionais: oferecer conhecimentos básicos de psicologia que contribuam para que todos que atendem o idoso incluam a dimensão da subjetividade psicológica no cuidar do idoso. Assim se justifica uma ação interdisciplinar tão cara à gerontologia.
SBGG Entrevista: Enquanto uma referência neste campo de envelhecimento e terminalidade da vida – como a Sra. avalia a contribuição da psicologia frente à proximidade da morte?
Ligia Py – Uma contribuição fundamental da psicologia na terminalidade da vida é trabalhar os lutos, antecipatório e posterior à morte. Luto de todos os que estejam implicados no processo de morrer do idoso: o próprio idoso com o luto antecipatório à perda da sua vida; também dos familiares e dos profissionais. “O trabalho do luto antecipatório é talvez a grande oportunidade de enfrentamento da morte, oferecendo ao idoso a possibilidade de coreografar a sua morte”, como nos diz a Kübler-Ross. Para os familiares e os profissionais, o trabalho de luto, anterior e posterior à morte do idoso, é uma boa possibilidade de crescimento pessoal, de visão realista da finitude, de ressignificações, de foco na busca do sentido e da valorização da vida.
SBGG Entrevista: Qual mensagem pode expressar aos novos psicólogos, que tem demonstrado interesse em se especializar no campo do envelhecimento?
Ligia Py – O envelhecimento é uma área de estudo, pesquisa e intervenção que só faz crescer. As demandas pelo aumento da longevidade instigam a psicologia a uma forte inserção, demonstrada pelo volume de produção do conhecimento que já possuímos. Convidamos os novos psicólogos a visitarem a produção de pesquisadores como Anita Liberalesso Neri, Mônica Sanches Yassuda, Delia Catullo Golfarb para uma aproximação das possibilidades atuais na psicologia do envelhecimento.
SBGG Entrevista: Qual o papel de se alcançar a titulação “especialista em gerontologia”?
Ligia Py – A importância do pertencimento: fazer parte do grupo de especialistas responsáveis por assumirem-se como produtores e difusores de conhecimentos e práticas, com a legitimidade de arautos e orientadores do saber psicológico em gerontologia.
SBGG Entrevista: O que lhe vem à mente ao ser questionada “ser psicólogo é…”
Ligia Py – Ser um profissional competente, sensível, ético e generoso.
Quem é Ligia Py
Na SBGG participou como integrante da diretoria, conselho consultivo e comissões. Na seção Rio de Janeiro ocupou a presidência do departamento de gerontologia. Vem atuando como professora convidada em cursos de especialização, mestrado e doutorado de Universidades de diversos Estados, com os temas envelhecimento e finitude humana. Integra, atualmente, o quadro de Professor Colaborador do Instituto de Psicologia da UFRJ, é membro do Conselho de Bioética do INCA e da Câmara Técnica sobre a Terminalidade da Vida e Cuidados Paliativos do CFM.